terça-feira, 19 de maio de 2009

Frida abre alma e coração em 1984


"Meus filhos mal conheceram uma vida em família, mas têm uma mãe para conversar, inclusive sobre os seus sentimentos mais íntimos."

Frida fez uma visita à Holanda em 1984 para promover seu álbum "Shine". Durante este tempo, a revista holandesa Libelle publicou esta entrevista muito aberta e sincera com Frida.

Anni-Frid Lyngstad (39) nasceu na aldeia norueguesa de Narvik. Aos dois anos de idade perdeu sua mãe e foi levada por sua avó. Ela encontrou seu pai pela primeira vez há sete anos atrás. "Ele chegou tarde demais para ser um verdadeiro pai para mim", ela diz em uma entrevista que Libelle teve com ela. Ela fala sobre sua infância e sobre seus dois filhos, a quem ela queria dar tudo o que ela própria sentiu falta quando criança, sobre seus dois casamentos e sobre o tempo em que ela viajou pelo mundo com seus filhos e com o ABBA.

Anni-Frid Lyngstad está em Roterdã, no décimo primeiro andar do Hotel Hilton. Lá embaixo os fãs estão esperando pacientemente por um autógrafo. Ela parece extremamente jovem com o seu penteado punk vermelho-púrpura. Educada e muito auto-confiante ela diz: "Eu agradeceria se você não fumasse aqui". Ela ainda não se recuperou da diferença de fuso horário, após uma visita à sua filha em Nova York. Sem café, mas água. Um grosso casaquinho de malha em torno dos seus ombros. "Eu posso ficar gripada", diz ela calmamente. Por um momento ela parece a imagem que muitas pessoas têm dela. Um pouco triste, mulher solitária, e que ainda não encontrou a felicidade, apesar de todo o sucesso mundial. Uma imagem que pode encontrar sua origem na infância e que é mantida viva pelo fato de que ela ainda está sozinha depois de seu divórcio de Benny Andersson. Sua solidão é algo que muitas entrevistas trazem também, tanto que quase se tornou sua marca registrada. Involuntariamente, isto parece tardio.

Frida nasceu há 39 anos no povoado norueguês de Narvik em um tempo em que não se esperava muitas promessas para o futuro. Ela é a filha de um oficial alemão, que retornou ao seu país depois da guerra. Há sete anos atrás ela o encontrou pela primeira vez. "Foi tudo muito estranho. Recebi uma carta de alguém que se dizia ser meu meio-irmão. Ele havia lido uma biografia sobre mim e comparou com algumas coisas que ele também tinha ouvido de seu pai. Como se verificou na verdade era o meu pai. Eu olhei pra ele, sobretudo com curiosidade. Ele chegou tarde demais para ser um verdadeiro pai para mim. Eu era uma mulher crescida. Como uma criança, ele poderia ter algo a dizer para mim, mas agora não mais. Apesar disso o encontro significou muito pra mim e nós mantemos contato desde então. Foi uma emoção muito estranha, quando nos olhamos olho no olho. Você imagina: aquele era o meu pai. Mas todas as emoções que vieram com isso, foram estranhas para mim. Não, eu nunca o culparei por nada. Afinal, ele foi uma vítima das circunstâncias também. Como um oficial alemão ele dificilmente poderia permanecer na Noruega depois da guerra."

Sua mãe morreu quando Frida tinha dois anos, depois disso ela foi levada pela avó. Elas se mudaram para a cidade sueca de Eskilstuna, porque em Narvik sua história estava manchada. "Eu não gosto de falar sobre minha infância", diz Frida. "Não porque seja um período que gostaria de esquecer - haviam momentos muito felizes também - mas isto não se ajusta à minha filosofia de vida. Eu aceito cada dia como ele chega. Essa é a razão pela qual eu não quero olhar muito para o futuro. É louco, mas eu voltei este verão a Eskilstuna. Eu não estive lá desde que a minha avó morreu, infelizmente antes do ABBA decolar. Quando eu dirigi pela cidade, eu não pensava que ela parecia ser nada. O que eu vi foram as memórias, a cidade de minha infância."

Frida tem dois filhos. A filha Lotta tem 18 anos e é estudante em Nova York. O filho Hans tem 21 anos, vive e trabalha em Estocolmo. "Ele escreve músicas, toca em uma banda, produz e arranja e é, bem, muito talentoso. Eu vejo nele muito da mesma pressa que eu tive para entrar na indústria musical. É algo mágico, algo que não pode ser explicado. Eu nunca entendi de onde isto veio, apenas estava ali. Com Hans pode ser mais fácil de compreender, porque ele tem uma mãe na indústria musical. Mas por outro lado, Lotta está encontrando seu próprio caminho também."

Falando sobre seus filhos, Frida lentamente torna-se mais pessoal. Quando falamos sobre criar filhos, ela diz: "Toda mãe quer dar para seus filhos o que ela não teve. Algo que sempre senti falta foi uma mãe para conversar. Apesar de todos os seus esforços, a minha avó nunca foi capaz de cumprir esse papel. Havia muita diferença de idade. Eu sei que meus filhos têm uma mãe assim. Não temos medo de falar uns com os outros, mesmo quando se trata dos sentimentos mais íntimos. Isso é uma coisa boa. Que eles confiem em mim, não tenham medo de vir para mim. Eu os vejo freqüentemente, sim. Algumas vezes por ano eu vôo para Nova York e Estocolmo, e Lotta e Hans também visitam Londres regularmente, onde eu tenho vivido nos últimos dois anos. É claro que é uma pena que moremos tão distante, e às vezes eu sinto muito a falta deles, mas todos assumimos nossas próprias vidas. Eu tentei criá-los assim, como pessoas independentes e responsáveis, que têm os pés no chão, capazes de tomarem suas próprias decisões. Eu acho que consegui. Eu tenho um enorme respeito pela maneira como eles conduzem suas vidas. Eles são capazes de gerir a si mesmos. Isso é um grande alívio, e faz a saudade não ser dolorosa.

Na verdade, é uma boa sensação ser tão jovem e ter filhos já crescidos. Eu cuido para que eles estejam felizes também. Você pode orientar as crianças e torná-los capazes de conduzirem suas vidas. Mas isto não é garantia de felicidade. A felicidade é algo que vem de dentro, não pode ser ensinada. Eles têm que experimentar de tudo na vida deles. Tudo o que posso fazer é estar lá quando eles precisarem de mim, para conversar. Mesmo que eles estejam do outro lado do mundo, eu ainda serei a sua mãe. Eu continuo a sentir a responsabilidade."

"Uma coisa que aprendi comigo é que a comunicação é uma ferramenta importante para a felicidade. A comunicação entre as pessoas é algo difícil. As pessoas raramente conseguem realmente se comunicar. Isso é o que eu disse para meus filhos também. É importante para eles se abrirem, serem amigáveis com as pessoas, e realmente tentarem se conectar. Você pode se livrar de vários problemas fazendo isso. Comunicar-se também significa ouvir muito atentamente, compreender como as pessoas são.

Eu não percebi instantaneamente que eu não era comunicativa, isto exigiu de mim vários anos. Meu divórcio de Benny foi um ponto de virada a esse respeito. Esse é o tempo que eu realmente precisava para ligar-me às outras pessoas, mais do que nunca. Para Benny, mas também para os amigos. Quando nos separamos, eu tinha que tomar uma decisão na vida. Olhei para tudo o que vivi até aquele ponto. Eu queria saber como continuar. Durante esse tempo, comecei a falar. Pela primeira vez eu me abri completamente. Esta foi provavelmente a melhor experiência da minha vida até agora, e isso significou muito para mim. Agora tenho confiança em mim mesma e na vida. Porque eu percebi que estava realmente errada. Eu me conheço muito melhor agora, e isso significa que já não estou com medo, sou muito mais forte e eu posso encontrar pessoas abertas.

O fato de Benny e eu não sermos verdadeiramente comunicativos foi uma razão importante para o nosso divórcio, naturalmente além de algumas outras razões. Foi apenas durante as últimas quatro semanas que ficamos juntos que realmente conversamos. Tive a sensação de que foi a primeira vez. É estranho, mas você vê que acontece mais quando os relacionamentos chegam ao fim. É como se de repente você percebesse que vai perder alguma coisa, e quer colocar as peças no lugar certo no último minuto. Também é importante saber porque isso acontece. De outra forma isto vai se arrastar. Isso significa que os parceiros têm de falar a sua opinião, algo que aparentemente não foi possível durante o relacionamento. Eu às vezes comparo isso com pessoas que estão morrendo. Você ouve muito que elas usam suas últimas horas para mostrarem sinceridade.

Para mim, um divórcio é como morrer um pouco. Talvez por isso é que tivemos boas conversas naquelas últimas semanas. Para ser honesta, foi o melhor período do nosso casamento. Eu não tenho arrependimentos. A decisão continuou a ser a mesma depois dessas quatro semanas. Mas o resultado é que Benny e eu ainda somos bons amigos. Foi um bom divórcio, na medida em que você pode chamar um divórcio assim. A tristeza permanece, mas você pode tornar isto mais fácil em outros aspectos. Fizemos exatamente assim e eu estou feliz por isso. Benny e eu ainda podemos falar sobre coisas íntimas, bons momentos que tivemos juntos.

Essas são emoções que você só partilha um com o outro, algo que você não pode falar com outra pessoa. Se você não pudesse nunca falar sobre isso novamente, se não houvesse amizade ao lado disso tudo, essas coisas pareceriam nunca ter acontecido. Como se nunca houvesse tido um casamento. Depois do meu divórcio de Benny eu tive muito apoio dos amigos. Eles preencheram o vazio e fizeram-me confiante de que eu não deveria caminhar para um novo relacionamento imediatamente. Eu não acho que teria feito isso sem meus amigos. Eu não seria do jeito que sou agora. É por isso que a amizade significa muito pra mim. Claro, quando você ama muito alguém com quem você é capaz de partilhar sua vida, essa é a melhor coisa que existe. Mas relacionamentos como esse são mais raros do que bons amigos. Meus amigos foram sensíveis o suficiente para não ficarem tristes comigo, eles me empurraram para a frente. Eles deram-me a segurança para não desistir. Isto me fez gostar deles mais do que já gostava."

"Eu divorciei-me duas vezes na minha vida, e isso não aconteceu em vão. Isto fez-me pensar. Sobre o mundo à minha volta e sobre eu mesma. De alguma forma acredito em destino, que há um sentido para as coisas que acontecem. Não que você possa sentar em uma cadeira e esperar o que está vindo para você, não, você tem que trabalhar a si mesmo. Tentar criar algo de positivo em vez de negativo. Você tem que lutar por coisas na vida que realmente deseja. O meu objetivo é saber o máximo possível sobre mim, conhecer-me. Saber porque estou aqui. Vou ter de trabalhar a minha vida inteira para chegar lá, e ainda nunca chegarei. Terei morrido antes de chegar a isso. Não, isto não é idealismo. Todo mundo deveria explorar isto, para viver conscientemente. Ser feliz com as pequenas coisas. No momento sou bem sucedida. Eu consegui tudo o que eu sonhava quando criança. Sou uma mulher rica, tenho dinheiro, dois filhos fantásticos e grandes amigos. Quando se trata de coisas grandes eu não tenho críticas. Isso é exatamente o que me faz regressar aos detalhes. Para valorizar as pequenas coisas do jeito que nunca fiz no passado. Isto me dá muito mais na vida. É a hora de conscientização. A principal vantagem de ter dinheiro é que ele me dá tempo para pensar em outras coisas. No passado eu estava ocupada lutando pela minha sobrevivência. Agora não mais. Eu tenho o tempo para aprender sobre mim mesma. No momento este é o principal valor da vida para mim, isto me faz feliz. Na verdade, eu não sou tão solitária como muitas pessoas pensam. Estou sempre dizendo isso, mas as pessoas não ouvem bem o suficiente. Ou talvez elas achem que é mais interessante que eu seja solitária. Nesse caso, eu tenho que decepcioná-las. Acredite ou não, estou realmente muito feliz. É nesse sentido que eu encontro minha existência muito satisfatória no momento.

O verdadeiro sentimento de felicidade é apenas um pequeno momento, uma coisa fugaz. Pode acontecer de forma totalmente inesperada. Você pode de repente ter este sentimento caloroso, que faz você se sentir no topo do mundo. Mas não pode ser mantido. Isso é necessário ou não. Um breve momento é o suficiente, você pode viver com isso por um longo tempo. Sei que para muita gente ser feliz significa ter uma família. Eu vivo sozinha e essa é a razão pela qual as pessoas supõem que sou solitária e infeliz. Para mim é mais importante encontrar harmonia em mim mesma, e que à minha volta existam pessoas que me amem e me entendam. Isso não tem que ser uma família. Eu não tenho medo de viver a minha vida sozinha. É um medo que muitas pessoas têm. A família dá um sentimento de pertencer, algo para se apoiar e que ninguém pode tirar. Infelizmente isto muitas vezes acaba sendo uma ilusão. Eu não tenho essa urgência de me entregar, nunca tive. Se acontecer, pode ser fantástico, mas você não deve correr atrás disso. Eu vivo a minha própria vida e isto me faz feliz. Talvez tenha a ver com o fato de que eu nunca tive a minha própria família, e tive pouco disso com os meus filhos também.

Quando eu me divorciei do meu primeiro marido, as crianças tiveram que ficar com ele, porque eu não podia ir pra qualquer lugar. Quando Benny e eu estávamos juntos, nunca chegamos a ter uma família. Evidentemente meus filhos vinham visitar-me, mas foi no início do ABBA. O início de um circo que nos levou pelo mundo todo. Lotta e Hans viajavam conosco ocasionalmente, mas você não poderia chamar isto uma vida familiar normal. Uma família onde a mãe deixa o jantar pronto à noite, quando o pai chega em casa do trabalho. Eu nunca conheci esse tipo de vida, e não creio que eu pudesse vivê-la. Meus filhos não poderiam também. Não importa o quão estranha a vida com o ABBA foi, eles a aproveitaram. Eles viveram entre pessoas que cuidavam umas das outras, que foram amigáveis e os tratavam como adultos, não como crianças. Foi uma grande família. No total ela durou dez anos, e nenhum de nós iria querer sentir saudades dela, incluindo Lotta e Hans. Nós nos sentimos afortunados por termos podido experimentar isso."


(Fonte: ABBA Articles - Publicado na revista holandesa Libelle em 1984)

8 comments:

Alexandre Carvalho disse...

Frida.. Ah, Frida..
A cada matéria lida, mais a gente se apaixona por ela. Obrigado, Adauto.

jessiane disse...

nossa... a frida, como me encanta saber as notícias de frida. ela é de mais, sofeu muito mais deu a volta por cima.linda

arnaldo disse...

eu amo a frida e o abba.chiquitita e i have drean eu não canso de ouvir.

Anônimo disse...

framemarco anne frida ta na suissa, ela faz parte de uma ong, esta bem!

Anônimo disse...

Frida foi e é uma mulher exemplar, discreta, conduta otima, um bom exmplo.
Sucesso Frida.
Brasil - São Paulo

Aparecida disse...

Grande Frida!! Admirável, exemplo de pessoa, de uma beleza sem igual por dentro e por fora. Gostaria muito de conhece-lá pessoalmente. Sucesso Frida.

Anônimo disse...

Meu nome é Sérgio Corradi sou de Belo Horizonte e posso afirmar beleza igual a da Princesa Frida é difícil de encontrar. Além do talento e da beleza ela tem uma história de vida muito interessante. Amo você frida quem sabe um dia ainda vou te conhecer. Um grande abraço a você e a todos do ABBA. Essa história não pode terminar assim voltem pelo menos por uma apresentação.
E que Deus abençoe vocês.

Anônimo disse...

Amei...tenho lido tudo o que vcs postam sobre o ABBA.Sou apaixonada por eles e nunca tinha lido artigos tão bons........continuem assim!

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